Antes de sairmos de Thyborøn, liguei para Hagar e contei que Maria não parava de fazer perguntas. “A Maria faz perguntas por uma questão de sobrevivência”, comentou Hagar. “Ela se agarra às suas respostas. Fica perdida quando não faz perguntas. Lembre que ela é uma criança. Homens não entendem isso. Pensam que uma criança é um adulto como eles”.
Eu disse: “Ela faz perguntas porque quer saber coisas. É o que as crianças fazem. Assim elas aprendem”.
Hagar retrucou: “Você não compreende mesmo. Crianças não pensam de maneira lógica, como nós. Elas primeiro têm que aprender a pensar logicamente. E têm que aprender isso com a gente. Você deve ver a criança como semissurda e semicega. Elas só conseguem avançar tateando”.
E eu disse: “Não é só com as crianças que isso funciona. Eu também sou assim. Todo mundo é semissurdo e semicego. Vale para todas as pessoas, mesmo que elas pensem que não”.
Toine Heijmans em No Mar, Editora Cosac Naify, página 28.